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Folha de S.Paulo: Portos parados

Fiscais da Receita, no topo da pirâmide salarial, impõem transtornos e prejuízos milionários ao país com greve abusiva

Após um mês de braços cruzados, os auditores da Receita Federal rejeitaram as propostas do Ministério do Planejamento e mantiveram a greve. O movimento, abusivo, tornou caótica a rotina dos portos brasileiros e propicia prejuízos milionários à economia nacional.

Atualmente 80% dos auditores fiscais ganham o teto salarial, de R$ 13,4 mil, sem incluir adicionais; os demais recebem o piso de R$ 10,1 mil. Seus proventos, portanto, já os colocam no topo da pirâmide salarial brasileira, considerado também o setor privado. Reivindicam, porém, um piso de R$ 14 mil e a equiparação salarial com os delegados da Polícia Federal, cujos salários devem alcançar R$ 19,7 mil em abril do próximo ano.

A persistência da greve dos fiscais é estapafúrdia. Tornou-se panacéia invocar o direito à equiparação salarial no setor público. Equiparação sempre para cima: os auditores fiscais não querem equiparação com professores doutores de universidades federais, que ganham bem menos. Mas os fiscais da Receita ainda se deram ao desplante de recusar a generosa proposta do governo, que era chegar aos R$ 19 mil em 2010, de modo escalonado.

Por causa da greve, prejuízos gigantescos, de naturezas diversas, se acumulam. Os fluxos de comércio internacional do país estão prejudicados. Apenas no porto de Santos, a carga parada foi estimada em US$ 4,9 bilhões.

Exportadores não podem cumprir contratos, que são cancelados, interrompendo canais de distribuição a duras penas construídos. Produtores que dependem de insumos importados paralisam linhas de montagem. Só no setor de componentes eletrônicos, as retenções da Receita de itens necessários à fabricação chegam a US$ 350 milhões.

Os segmentos de transportes e logística contabilizam prejuízos de cerca de US$ 14 milhões, com os caminhões parados em 14 pontos de fronteira no país. As empresas arcam com os custos de veículos estacionados, estimados em US$ 300 por dia -para não mencionar que os caminhões parados estrangulam o faturamento dessas companhias. Cerca de 3.500 veículos de carga argentinos estão detidos na fronteira com o Brasil.

Descontar do salário dos grevistas os dias parados é o mínimo que se exige do governo federal. É preciso, contudo, ir além e discutir formas de ressarcimento pelos prejuízos causados por essa paralisação abusiva.
 

Editorial - Folha de S.Paulo