Especial: Mulheres no serviço público

Brasil, Estados Unidos e Irlanda encontram desafios na promoção de políticas públicas para a igualdade de gênero

Pesquisadora irlandesa Linda McLoughlin em palestra na ENAP. Foto: Divulgação/ENAP

Pesquisadora irlandesa Linda McLoughlin em palestra na ENAP. Foto: Divulgação/ENAP

A realidade das mulheres no mercado de trabalho mundial tem melhorado substancialmente, mas ainda carrega preconceitos evidenciados pelas estatísticas. Segundo pesquisadores da área, os problemas encontrados são herança de uma civilização de origem paternalista, machista e que negou, durante muito tempo, o direito das mulheres ao estudo e à participação na política.

Embora mudanças simbólicas tenham começado a ocorrer no final do século XIX, as lentas estruturas sociais ainda resistem às políticas públicas de diversos países na luta para a igualdade de gênero na administração pública. Estudos desenvolvidos nos Estados Unidos e na Irlanda comprovam que esta discrepância não é particularidade do Brasil.

Em comum entre os estudos de gênero na administração pública nesses três países está uma constatação: é preciso, e bom, que a igualdade de postos em todos os níveis seja buscada.

Brasil

De acordo com o IBGE, as brasileiras já são maioria na administração pública de municípios, estados e união (55%). Apesar disso, raramente elas chegam aos postos mais altos de chefia - apenas 22% das vagas do primeiro escalão da Administração Pública Federal, segundo dados de 2013 do Ministério do Planejamento, são ocupadas por mulheres.

Apesar da participação ainda tímida delas no topo do poder, o brasileiro se mostra mais adepto às mudanças que carregam como símbolo a ascensão de Dilma Rousseff ao posto de primeira “presidenta” brasileira. Segundo pesquisa publicada pelo Ibope no fim de 2013, apenas 9% dos entrevistados acreditam que a realidade política seria pior com mais mulheres no comando. A mesma pesquisa afirma que, para 43% dos consultados, o mundo seria melhor com uma participação feminina mais abundante.

Esse otimismo para com as mulheres ajuda a entender a mudança dos números nos últimos 10 anos, evidenciada em pesquisa divulgada em 2013 pela Escola Nacional de Administração Pública - Enap. A desigualdade permanece, mas em lenta diminuição, e está agora mais evidente no topo da pirâmide, onde são os homens que ocupam 78% dos cargos comissionados de Direção e Assessoramento Superior - DAS de nível 6, o máximo dentro da administração federal brasileira. Antes, em 2002, 18% desses cargos eram exercidos por mulheres.

Estados Unidos

Já nos Estados Unidos, os avanços são comemorados, mas poucos se lembram de convidar as “moderninhas” chefes para eventos e confraternizações. Por incrível que possa parecer, esse é apontado como um dos principais motivos para a limitada presença das americanas no alto comando, como mostra estudo da Equal Employment Opportunity Commission's (EEOC), agência americana criada para implementar as normas de promoção da igualdade no mercado de trabalho em favor das minorias raciais e sexuais.

Essa agência aponta que quase 44% da força de trabalho federal americana em 2011 era exercida por mulheres, mas que apenas 30% delas alcançavam os postos mais altos. A pesquisa revelou que as dificuldades de promoção estão diretamente relacionadas às restrições dos altos executivos em se relacionar com as mulheres dentro e fora do ambiente de trabalho, diminuindo a capacidade de expansão da rede de contatos da gestora e, consequentemente, suas chances de promoção.

Ainda mais preocupante é a constatação de que elas são preteridas por homens nas indicações para cursos de capacitação, essenciais para a progressão na carreira pública. Como possível solução, o órgão americano sugere que o estado deve se responsabilizar por promover campanhas educativas de conscientização dentro da administração pública.

Irlanda

Na Irlanda, os dados sobre gênero são favoráveis às mulheres, que ocupam 68% do total de cargos e empatam em 50% dos postos em nível gerencial. Porém, segundo a pesquisadora local Linda McLoughlin, os dados escondem uma tendência machista e tradicional dos irlandeses.

De acordo com a pesquisadora, as políticas públicas que visam reduzir as distorções entre homens e mulheres no serviço público irlandês sofre resistência interna e externa. Por lá, apenas 7% do alto executivo público é feminino e 75% dos cidadãos acreditam que é melhor não apostar em ideias novas, mantendo aquilo que é tradicional e preservando o status quo.